Comecemos ontem, porque o hoje, ao que parece, não existe mais
Vagner Amaro
“Pensem que isto aconteceu: eu lhes mando estas palavras. Gravem-na em seus corações, estando em casa, andando na rua, ao deitar, ao levantar; repitam-nas a seus filhos. Ou, senão, desmorone-se a sua casa, a doença os torne inválidos, os seus filhos virem o rosto para não vê-los.” (“É isto um homem?”, Primo Levi, Editora Rocco, 2013).
No final da década de 1980 eu era um uniformizado e orgulhoso estudante do Instituto de Educação, isso por volta dos meus onze anos de idade. Já gostava muito de ler e de escrever. Certa vez, tive que ir até a secretaria para resolver algo prosaico em relação a caderneta escolar e no caminho encontrei um dos inspetores do Instituto. Quanto mais eu explicava a ele que estava indo resolver algo na secretaria, mais ele me acusava de estar fazendo algo errado.
Para o inspetor não bastava a minha explicação ou meu relato de que tinha sido liberado pela professora. Me explicar causava uma irritação imensa nele, que não queria conversa e sim obediência. Assim, nosso diálogo terminou com a seguinte frase dita por ele: “pessoas como você morrem com a boca cheia de formiga”.
Para um garoto de onze anos de idade, a frase soou tão sem sentido, tão fora de lugar, que lembro de retornar para a sala de aula, em silêncio, sem questionar e sem resolver o que precisava resolver. Por alguns anos a frase habitou meu imaginário como uma indagação: O que ele quis dizer?
Fonte: Biblioo
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