Pode o Estado, ao criar cargos públicos de psicólogos no âmbito do Poder
Judiciário, pretender deles uma contribuição que extrapole as regras
técnicas e éticas de sua profissão? A questão é levantada em
“Cartografia do desassossego: o encontro entre os psicólogos e o campo
jurídico” pela autora Ana Claudia Camuri, graduada e mestre em
Psicologia pela Universidade Federal Fluminense.
No livro, a pesquisadora revela a crise ética e metodológica desses profissionais, ao serem chamados a atuar no papel de peritos, ou seja, de “auxiliares da Justiça, tais como os serventuários e oficiais”. O problema decorre da compreensão do “perito”, na imaginação jurídica, como uma testemunha especial, cujos conhecimentos e capacidade técnica favoreceriam a compreensão do juiz acerca de certos fatos. Ou seja, em determinada etapa do processo, o portador desses conhecimentos seria intencionalmente escolhido para dirimir o litígio e, então, perito e juiz viveriam a mesma pessoa. Daí o impasse: pode o psicólogo testemunhar em juízo sobre o seu paciente?
Em “Cartografia do desassossego”, Ana Claudia Camuri se propõe a fazer um mapeamento das práticas do psicólogo no campo da Justiça. A autora apresenta as forças que servem de “liga” entre os saberes e práticas “psi” e o direito, em busca de pistas para uma espécie de “diagnóstico” acerca do funcionamento desses saberes no campo jurídico ou em territórios judicializados. Para isso, parte de uma perspectiva clínico-política transdisciplinar, que se utiliza de alguns escritos de Foucault, Deleuze, Guattari, Wacqüant, Espinosa, Lourau e Fernando Pessoa, entre outros.
O livro, publicado pela Editora da UFF, será lançado no dia 20 de março, às 17h30, na Livraria Travessa 1 (Travessa do Ouvidor, 17, Centro, Rio de Janeiro).
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