Por Vagner de Alencar
Imagine se 24 bibliotecas fossem instaladas diariamente no país até
os próximos oito anos. O que seria considerado um sonho para as
instituições de ensino é, na verdade, a conta que precisaria ser feita
para atender à lei 12.244, sancionada há dois anos, que obriga todas as
escolas públicas e privadas a implantarem bibliotecas até 2020. Para dar
luz ao tema, o Instituto EcoFuturo em parceria com empresas privadas e
organizações civis lançou recentemente a campanha Eu Quero Minha Biblioteca.
A ideia é sensibilizar os candidatos e prefeitos eleitos pelas eleições
municipais e, principalmente, mobilizar a população para exigir a
efetividade deste direito.
No ar até 2020, a campanha mantem um portal onde as pessoas podem
encontrar informações sobre a lei, detalhes sobre os projetos de lei
em tramitação que abordem temas relativos às bibliotecas, audiências
públicas agendadas, informações sobre como montar essas bibliotecas,
quais escolas já criaram as suas e ainda um mapa, em tempo real, que
mostra a adesão da população e de candidatos ao movimento.
Vladimir Melnikov / fotolia |
Ao aderir à campanha, os participantes passam a ser informados sobre estratégias que podem e devem ser implementadas no âmbito da política pública local. A ideia é articular uma rede ativa de mobilizadores, promovendo o mesmo impacto social do projeto Ficha Limpa (projeto de lei que teve origem na sociedade e que ganhou espaço na câmara legislativa depois de uma mobilização em massa e foi efetivado). Até agora, mais 800 pessoas em 379 municípios de todos os estados do país já apoiaram a campanha, que também conta com a adesão de mais de 20 parlamentares e 74 instituições.
Segundo Christine Fontelles, diretora de educação e cultura do
Instituto EcoFuturo e uma das principais idealizadoras da campanha, a
implantação das bibliotecas é apenas um dos eixos do grande tema que é a
educação para a leitura no Brasil. “Ter o espaço é fundamental mas
paralelamente é necessário discutir esse recheio. É preciso assegurar
tanto uma arquitetura confortável como profissionais dentro dessas
bibliotecas e acervos que conversem com o projeto pedagógico”, afirma.
Ainda de acordo com Christine, a preocupação com a leitura no Brasil
entrou em pauta há cerca de uma década e vem, pouco a pouco, ganhando
uma projeção maior, ainda que não seja tratada de uma forma muito
adequada para a efetividade da política pública. “Em muitas regiões,
surgem ‘jegue-livro’, ‘carro-livro’, ‘balsa-livro’ ou ‘bicicleta-livro’
buscando dar conta desse déficit”, diz.
Cartilha
Outra ação da campanha é distribuição de uma cartilha que orienta gestores públicos
sobre como acessar recursos para implementar e manter bibliotecas. A
publicação traz, por meio de uma linguagem bem simplificada, informações
relacionadas a espaço e infraestrutura – com livros em braile e
audiolivros –, equipe e atendimento. “Descobrimos que os gestores,
muitas vezes, desconhecem as políticas existentes e não fazem sinapses
dos recursos de educação voltados para as bibliotecas”, afirma
Christine.
A publicação já foi enviada a governadores, secretários estaduais de
educação, parlamentares da comissão de educação, imprensa e organizações
que fazem parte da coalizão que organiza a campanha. Em 2013, o
material será distribuído a todos os prefeitos e secretários municipais
de educação.
Bibliotecas-parque
Um das inspirações da campanha é o modelo realizado pelo país
vizinho. Na Colômbia, todas as escolas têm biblioteca e o processo de
implementação dessas fez parte de um esforço maior para ampliar a
cultura de leitura da população. A proposta integrou um programa
nacional de redução da violência, que teve início em Medelín e expandiu
para outras cidades como Bogotá (considerada a Capital Mundial do Livro
pela Unesco em 2007). “ Essas cidades oferecem um serviço público de
referência, mantêm uma infraestrutura de qualidade e são vocacionadas
para promover leitura em todas as faixas etárias”, diz Christine.
No Brasil, um modelo similar, também inspirado na iniciativa colombina, é
realizado há dois anos no Rio de Janeiro. A Biblioteca-Parque,
considerada a primeira no Brasil, tem 3.300 metros quadrados e beneficia
moradores de 16 favelas de Manguinhos, uma das áreas mais pobres da
cidade. Ainda no estado, a Biblioteca Pública de Niterói é a segunda
biblioteca-parque, reinaugurada em julho deste ano. A próxima a adotar o
modelo será a favela da Rocinha.
Fonte: Porvir
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